Por Guilherme Corrêa
No já clássico filme “Querida, Encolhi as Crianças”, o cientista Wayne Szalinski (Rick Moranis) constrói uma máquina que, acidentalmente, miniaturiza seus filhos (e os dos vizinhos também!), levando-os a um mundo novo cheio de desafios inéditos.
O título do filme foi usado por mim como mote para um post provocativo, publicado no Linkedin, no ano de 2017. Na ocasião fiz um chamado à reflexão ao observar uma série de eventos isolados e que estavam se combinando para transformar completamente o status quo dos ambientes de trabalho.
Em 2018 e 2019 insisti no tema com os textos “O Workplace foi para o Espaço” e “Quando as Tendências viram Realidade”. Em todos eles uma ideia central era defendida. Os escritórios e as sedes corporativas irão diminuir de tamanho com óbvios impactos em todas as estruturas que gravitam o nosso segmento.
Muito antes que o evento da Covid-19 criasse uma “máquina do tempo” que acelerou tendências, alterou comportamentos e estabeleceu um novo Zeitgeist durante nossa noite de sono (fomos dormir em um mundo e acordamos em outro), os sinais do tsunami transformador já apontavam na linha do horizonte e de longe pareciam apenas as já famosas “marolinhas”.
Assim são as tendências. Aparecem ao longe como pequenos sinais e por esse motivo, muitas vezes, não são notadas. Tendências são sorrateiras e é preciso estar atento a elas.
Listo a seguir apenas alguns fatores que já transitavam em nosso cotidiano, mesmo que em diferentes estágios de maturação:
- Mundo digital
- Mobilidade urbana
- Cultura do compartilhamento
- Preocupação com a Sustentabilidade
- Gerações Y e Z
- Portabilidade das pessoas e o Everywhere-Office
- Veículos autônomos
- Inteligência Artificial
- Times de trabalho espalhados pelo globo
- Etc…
Mesmo se analisadas de forma individual, algumas dessas tendências já teriam potencial para impactar significativamente o formato dos workplaces. Quando entrelaçadas simultaneamente, estão criadas as condições para a formação de uma “tempestade perfeita”, que altera completamente a demanda ligada aos espaços corporativos.
Visando apimentar a reflexão, incluo mais um “tempero” nesta receita: Um edifício corporativo leva alguns anos entre a incorporação e a sua entrega para o mercado; no momento do projeto são levados em consideração demandas que, hoje está claro, são cada vez mais fluidas, o que nos coloca frente à outra questão: Estariam os atuais Corporate Buildings (mesmo os recém lançados) preparados para esta fluidez?
Pessoalmente acho que sofrerão de obsolescência prematura, o que não significa a impossibilidade ser adaptados. Destaque aqui para o termo “Adaptados”.
A reflexão sobre os desafios de se projetar em um mundo de necessidades cada vez mais voláteis fica para outro momento. Mas não custa nada deixar no ar mais esta provocação.
Retornando à questão principal, penso ser uma ingenuidade acreditar que o pós-pandemia nos trará de volta a realidade em que vivíamos até recentemente. Em todo o mundo, e em todas as áreas, “nada será como antes…amanhã”. Em maior ou menor grau. Para além das mudanças de comportamento, a questão do risco sanitário global entra no rol dos itens críticos a serem avaliados. Assim como aconteceu com a questão da segurança, a partir dos atentados de 11 de setembro.
Então, como imaginar que uma grande empresa, que hoje possui dezenas ou centenas de postos de trabalho em grandes lajes corporativas, não comece a se perguntar se toda aquela área ocupada é realmente necessária.
Este questionamento já transitava de forma discreta no mundo corporativo e estava longe de ser um “trend topic”. Mesmo porque, as respostas advindas destas reflexões envolvem mudanças de comportamento, o que sabemos, sempre dificultam as alterações de rota (mesmo as necessárias).
Não raro, observarmos novas maneiras de viver a partir da introdução de facilidades resultantes das disrupções tecnológicas. Afinal adoramos facilidades, não é mesmo?! Tome-se como exemplo as chamadas Áreas Colaborativas. Estes ambientes são espaços criados a partir da portabilidade das pessoas, e ela só foi possível a partir do avanço da tecnologia que estimulou novos comportamentos e estes, novas demandas.
Olhando desta forma, fica claro como a tecnologia do WiFi influenciou a indústria de mobiliário corporativo. Ao permitir que as pessoas trabalhassem em vários locais – e não mais ficassem fixas em suas workstations – estimulou a criação de produtos e empresas e ao mesmo tempo contribuiu para fim de várias companhias tradicionais, que não entenderam o que estava por vir e se tornaram anacrônicas em um curto espaço de tempo. Estas empresas não entenderam que o “tsunami” da portabilidade estava a caminho. Quando perceberam, já era tarde.
Neste exato momento, vivemos sob a influência da alucinante evolução tecnológica somada ao impacto da pandemia. O resultado disso será, ao meu ver, uma rápida mudança no formato dos workplaces. E a redução destes espaços será apenas uma delas.
Para atender a essa nova demanda todos os integrantes do mercado precisam se preparar. E acredito que o farão, sob pena de serem engolidos por uma onda que não vai parar. Incorporadores, projetistas, construtores, imobiliárias e demais players, deverão repensar o seu negócio, sua estrutura e atividade. Ainda é tempo.
Olhem para as nuvens. É para lá que parte significativa dos m² corporativos está se transferindo. Isto, com certeza, irá gerar muitas oportunidades nesse novo mundo.
E neste caso, o Céu é o Limite.